Com arzinho de “Maria Chique”, Tasha estava absorta a tudo que se passava mesmo na sua frente, só se importava em pegar no espelho que tinha na mala e retocar a maquilhagem.
A jovem Stata - que espantosamente tinha todas as partes do corpo intactas, não possuindo ainda mais alguma - era filha adoptiva de Kraklin. Sendo a mais nova dos habitantes freaklandeses, Stata não percebia de todo o que Tasha estava para ali a fazer.
- Ta, ta shî vi mo shopping? (o, o que é um shopping?) - perguntava Stata ao seu pai. Obviamente, ninguém percebia nada, muito menos Kraklin.
Do estojo de maquilhagem, Tasha tira um batom. Kraklin, todo atrapalhado a ver aquilo pensava que era uma arma de destruição maciça ou algo do género.
- Cocucá shi vi ropula-pi om cailakú! (aposto que é "rendam-se" em anormalês!) – respondia Kraklin à sua filha, ao ver o objecto.
Receando o pior, o “grupinho” de freaklandeses mexiam as suas “cabeçorras” apavorados.
- Zuuu! (ahhhhh!) – afirmava Xixorri.
Milissegundos após Tasha pegar no seu batom, os habitantes de FreakLândia perceberam que aquele objecto minúsculo não se tratava de uma arma, a não ser que Tasha se estivesse a mutilar ao colocar aquele coisa rosa choque que subia se rodasse a “partezinha” azul sobre os seus lábios. De qualquer maneira, tudo seria de esperar vindo daquela criatura, inclusive assassinatos em série seguidos de automutilações. Mas, aquele monstro de silhueta esquelética, vestidos curtíssimos e fenomenais botas com uns não menos fenomenais vinte centímetros de salto, era tudo menos perigoso, pensavam os freaklandeses.
Como quaisquer seres, o povo freaklandês era extremamente curioso, principalmente Stata e Cuscáki, as “crianças-graúdas” da população.
- Rócarri ci cacho? (Podemos tocar-lhe?) - perguntava Cuscáki,
- Usha! (sim!) - respondia Kraklin, sabendo já que aquele ente mesmo em sua fronte era inofensivo.
Então Cuscáki avançou, passo a passo, como um lânguido caracol, costas inclinadas para a frente, pernas flectidas e abertas, um vestido sujíssimo que nem as coxas lhe cobria. Mas Tasha continuava a olhar fixamente para o seu espelhinho, desta vez tentando tirar aquela pintinha preta que tinha dentro do olho, aquela que está no interior da rodinha com cor azul, pois pensava que aquela pintinha preta fosse um bocadinho de rímel que deixara quando retocou as pestanas. Coitada, nem sabia que o que lhe permitia ver era aquela pintinha.
Tasha pressente Cuscáki a aproximar-se. Guarda de imediato o espelho na sua mala, não fosse aquela “coisa” que se aproximava dela, roubar-lhe o estimado espelho. A dois micrómetros de distância, Tasha olha, nesciamente para Cuscáki. Lentamente, a habitante de FreakLândia percorre com o seu enorme nariz todo o corpo de Tasha, que curiosamente, deixa Cuscáki prosseguir pois o máximo que poderia acontecer seria ficar com a sua fatiota cheia de fluidos vindos da pequena Cuscáki, o que de qualquer maneira só sujaria um bocadinho, e se Tasha ficasse suja, existia mesmo a seu lado uma exagerada lagoa azul, e como Tasha tinha na sua mala uma macro-amostra de gel de banho, seria um banho quase a sério.
- Cóssâmis quaqui! (Podem vir!) – gritara Cuscáki aos seus discípulos. Kraklin foi o primeiro a avançar, também não seria de esperar outra coisa, afinal de contas Kraklin era o “Dirigente dos Habitantes de FreakLândia”, DHF para simplificar.
O segundo a avançar foi Xixorri, tremia desmesuradamente. Atrás de Xixorri seguia Nhecki, Stata, Kichóki, Picôxurri, Nòxica, e a lista continuava, parecia uma comitiva.
Tasha vendo aquela multidão vindo em sua direcção, ficara de todas as cores.
Era mais que óbvio o que a criatura que a estava a cheirar dissera a todos que se aproximassem, e se uma a inalá-la de cima a baixo já era extremamente desagradável, uns setenta a fazê-lo seria inconcebivelmente repugnante e acima de tudo, pouquíssimo chique.
Após a sua face percorrer todas as cores do espectro, Tasha sente medo. É então que Dúsxaki, o último da fila, uma múmia ultra-musculada e com dois metros e meio de altura se atira para cima de Tasha para tentar cheirá-la. Tasha é brutamente esborrachada. Dúsxaki levanta-se ligeiramente e cheira então a criatura. Kraklin estava no fim da fila aquando da “placagem” que derrubara Tasha.
- Kicáxu! (Chega!) – berra, indignado.
Param todos. Kraklin dá um passo em frente. Os habitantes de FreakLândia desobstruem o caminho para o chefe passar. Kraklin prossegue. Alguns minutos depois, chega a Tasha. Os dois olham-se. Tasha desvia o seu olhar de Kraklin. Kraklin vira-se para o lugar de onde vieram e aponta para uma enorme fogueira.
- Shirró-lú arrásá? (Queres-te aquecer?) – pergunta Kraklin.
Tasha não entende Kraklin, mas como o humilde freaklandês tinha apontado para a fogueira, a criatura percebera então o que Kraklin lhe perguntara. Tasha suspira de alívio. Responde com a cabeça, movendo-a na vertical. Tasha dá um passo, Kraklin dá-lhe a mão dirigindo-a pela multidão. Cuscáki e Stata olhando-se.
A filha de Kraklin, com vozinha de criança que mal se ouvia no meio daquela algazarra, afirma:
- Hizúcá-és! (Sigam-nos!)
Stata avança e Cuscáki acompanha-a, assim como os restantes. A curta viagem até à fogueira demorara dez minutos, cinco segundos e 24 milésimos.
Tasha foi a primeira a sentar-se, depois senta-se Kraklin, mesmo ao seu lado. Stata correu logo para o lado de Tasha, não fosse alguém roubar-lhe o lugar junto a ela.